Vivemos na era do medo: temos medo de não sermos amados, medo de não sermos felizes, de não conseguirmos um emprego, de perdê-lo, de ficarmos doente, de não termos, de termos em demasia, de errar, e etc.Sartre já dizia que “Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.”O medo faz parte da condição humana, sentimos medo toda vez que nos sentimos ameaçados ou deparamo-nos com o desconhecido.
Para Rubem Alves “O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”Alguns filósofos diziam que todos os medos poderiam ser correlacionados com o medo da morte, o grande desconhecido para a condição humana.Rubem Alves vai mais longe: acredita que nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. Como disse Cecília Meireles “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo.."
Humanos que somos vivemos a ambivalência do sentimento do medo, fugimos e somos seduzidos ao mesmo tempo por ele, uns mais, outros menos.Quem nunca foi a um parque de diversão e não se sentiu extasiado pelo medo causado por um brinquedo?
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês em entrevista sobre seu livro Medo liquido, faz uma análise genial sobre o medo contemporâneo:“Os medos agora são difusos, se espalharam. É difícil definir e localizar as raízes deles, já que sentimos e não vemos… Isto é o que faz com que os medos contemporâneos amedrontem tão terrivelmente e os seus efeitos sejam tão difíceis de amenizar. Eles emanam virtualmente em todos os lugares. Há os trabalhos instáveis, as constantes mudanças nos estágios da vida, as fragilidades das parcerias, o reconhecimento social só dado ‘até segunda ordem’ e sujeito a ser retirado sem avisos prévios, as ameaças tóxicas, a comida venenosa ou com possíveis elementos cancerígenos, a possibilidade de falhar num mercado competitivo por causa de um momento de fragilidade temporária ou por causa de uma falta de atenção momentânea, as ameaças que as pessoas sofrem nas ruas e a constante possibilidade de perda dos bens materiais...
Os medos são muitos e diferentes, mas eles alimentam uns aos outros e a combinação destes cria um estado na mente e nos sentimentos que só pode ser descrito como um ambiente de insegurança. Nos sentimos inseguros, ameaçados, não sabemos exatamente de onde vem esta ansiedade e como proceder. Os medos não têm raiz. Esta característica líquida do medo faz com que ele seja explorado política e comercialmente. Políticos e vendedores de bens de consumo acabam transformando esta característica em um mercado lucrativo. O comum é você tentar reagir, fazer alguma coisa, tentar desvendar as causas da ansiedade e lutar contra as (invisíveis) ameaças e isso é conveniente do ponto de vista político ou comercial. Tal atitude não vai curar a ansiedade, só alimenta esta indústria do medo. Adquirir bens em prol da segurança só alivia alguma tensão e por um breve tempo.
Para governos e mercado é interessante, portanto, manter aceso estes medos e, se possível, até estimular o aumento da insegurança. Como a fonte das ansiedades parece distante e indefinida é como se dependêssemos de especialistas, das pessoas que entendem do assunto, para mostrar onde estão as causas do sofrimento e como lutar contra ele. Não temos como testar a verdade que nos contam, só nos resta, então, acreditar no que dizem. Da mesma forma como quando nossos líderes políticos nos falaram que Saddam Hussein tinha armas de destruição de massa e estava pronto para detoná-las ou quando nos dizem que nossas preocupações e problemas acabarão quando os emigrantes forem enviados para casa. A natureza dos contemporâneos medos líquidos abre ainda um enorme espaço para decepções políticas e comerciais.”
Diante de tantos medos, nossso aparelho psiquico precisa se defender , e é ai que nascem os mecanismos de defesa que podem ser considerados as ações psicológicas que têm por finalidade reduzir qualquer manifestação que coloca em perigo a integridade do Ego, do eu, pois do contrário o indivíduo não conseguiria lidar com situações que por algum motivo considerasse ameaçadoras. São processos inconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A base dos mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos por causa do medo provocado, mais fortes os mecanismos de defesa ficam ativados.