domingo, 5 de julho de 2009

Patricia A responde:

Segue abaixo um pouco do pensamento de Baumam e que retrata o que vem aocntecendo na sociedade
"há sempre um afeto que espreita a frágil sanidade de nossa sociedade "bem-sucedida": o medo. Ora, tememos perder o fruto de nossas conquistas pessoais e nosso conforto material, seja pelas crises econômicas, seja pela insegurança e instabilidade da vida urbana e mesmo pelas catástrofes naturais, que não fazem distinção entre os países ricos e os em desenvolvimento.
A instabilidade econômica, a despeito dos transtornos que causa, pode ser resolvida com medidas políticas eficientes;os efeitos avassaladores da natureza podem ser atenuados com ações eficientes de prevenção e socorro capitaneadas pelas forças governamentais; entretanto, a situação de violência cada vez mais se amplia e é contra os transtornos dessa situação tensa que nossa ordem social mais se vê obrigada a elaborar mecanismos de fuga psíquica e defesa coercitiva. No auge da era da liquidez, o ser humano se despersonaliza e adquire o estatuto de coisa a ser consumida, para em seguida ser descartada, quando a outra pessoa se cansa do uso continuado do objeto "homem", facilmente reposto por modelos similares.
Podemos dizer que essa disposição valorativa é uma espécie de violência simbólica contra a dignidade da condição humana. Esse processo de despersonalização do indivíduo, imerso no oceano da indiferença existencial, é a característica por excelência da ideia de "vida líquida" problematizada por Zygmunt Bauman, uma vida precária, em condições de incerteza constante: "A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo" (Vida líquida, p. 10).
Imerso nesse processo rotativo de inclusão e exclusão instantâneas nas suas relações afetivas, a "humanidade líquida" cada vez mais teme afirmar a potência unificadora do amor, sentimento que, aliás, é dificilmente mensurável por critérios quantitativos e cálculos estatísticos. É possível expressarmos adequadamente tal afeto por alguém? Quando amamos, amamos a pessoa pelo que ela é ou pelo que ela representa para nós?
A "moralidade líquida" optou pela segunda possibilidade, fazendo sempre da figura do outro um estranho que só adquire importância quando se presta a satisfazer os nossos objetivos egoístas. Essa disposição afetiva não é uma cruel novidade da era da técnica, mas certamente encontrou o seu mais intenso nível de degradação existencial do homem em nossa Idade de Ferro, isto é, a "pós-modernidade líquida".
No contexto da vivência líquida, amar se caracteriza sempre como um ato arriscado, perigoso, pois não conhecemos de antemão o resultado final das nossas experiências afetivas: só é possível nos preocuparmos com as consequências que podemos prever e é somente delas que podemos lutar para escapar, como diz Bauman (Medo líquido, p. 18).Uma vez que o outro é encarado apenas como uma peça que rapidamente entra em processo de obsolescência, tranquilamente se usufrui o seu potencial pessoal para que logo após se possa dispensá-lo, sem que haja quaisquer crises de consciência da parte do indivíduo consumista de afetos, típica máscara de Don Juan."

Um comentário:

  1. Patricia, achei interessante o que escreveu e isso me fez pensar em outros sentimentos que andam distorcidos. Assim como o amor,a solidariedade por exemplo também pode ser líquida,na medida em que as pessoas muitas vezes são solidárias para se isentarem de impostos,para buscarem alívio de suas culpas,e nao para fazer pelo outro pelo ato de prazer,ou por despreendimento.

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