A sociedade atual, segundo Debord (1975), corresponde à sociedade do espetáculo, ou à cultura do narcisismo. O projeto da modernidade tem suas raízes no século XVIII com o iluminismo, sua principal característica era a de creditar a razão para explicar racionalmente os fenômenos naturais e sociais e a própria crença religiosa. Representava a hegemonia intelectual da visão do mundo da burguesia européia, abrindo caminho para a revolução francesa. Surge então o renascimento que fornecia o lema “Liberdade, igualdade, fraternidade”, tendo como principal precursor René Descartes. Dentro desse contexto, surge o liberalismo econômico que sustentava a necessidade de uma economia livre, no qual a verdadeira riqueza das nações está no trabalho, que deve ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores. Também nesse século, irá surgir o romantismo, outra corrente em reação a ênfase ao culto frio da razão, o iluminismo. Pregava que nós agimos conforme nossas crenças, por isso nada pode ser considerado plenamente exato. Tudo varia de acordo com nossa percepção. No romantismo, o homem se descobre livre para ser ele mesmo. Seus sonhos podem se tornar realidade. Nada é impossível. Mas o que vemos no sujeito pós-moderno? Diferentemente dessas idéias “ a livre iniciativa se alia ao mercado que submete a mídia ao ícone do consumo, formatando objetos a serem consumidos, corpos a serem produzidos, culturas a serem absorvidas, sujeitos a serem diluídos”.
Um mundo pós-moderno que vive da idealização do lucro e do sucesso, o outro é coisificado, transformado em objeto de uso descartável, o predomínio de uma moral hedonista que ensina que o importante é tirar o proveito de tudo e de todos. Para Jurandir Freire Costa, a descrença nas instituições, na política, nos valores coletivos, tem nos levado ao cinismo, à violência, à delinqüência e ao narcisismo.
Na construção da modernidade no século XVIII, definiu-se o sujeito pelo espaço de sua interioridade e, nesse espaço, aquilo que era considerado como algo da experiência e da loucura era o fato do sujeito perder esse espaço, essa dimensão da interioridade, e, portanto, se deixaria de ser sujeito. Isto é, o ponto da ancoragem de que o sujeito tem a sua verdade, a sua ética definidas pelo campo, a interioridade tinha como contraponto uma idéia fundamental de que o sujeito enlouqueceria na medida em que perdesse o espaço de sua interioridade e se transformasse num sujeito exteriorizado, ele seria um louco.
O sujeito da atualidade, enquanto sujeito auto-centrado, enquanto predador, enquanto sujeito que quer gozar num eterno presente, é um sujeito que vive no espaço da exterioridade.
Dito isso, podemos tentar entender o valor que a psiquiatria nos últimos 20 anos confere a síndrome do pânico, às depressões e as toxicomanias. O sujeito panicado vive o pânico permanente de se expor à uma situação do espaço público, de se colocar sob o olhar dos outros, de poder ocupar a cena. O sujeito deprimido é aquele que sofre de um excesso de interioridade e, por isso, dentro da sociedade do espetáculo, ele é considerado insuportável. Hoje, a psiquiatria passou a tratar dos depressivos e panicados a base de psicofármacos para que o sujeito pare de cavilar tanto sobre a sua interioridade e se aproxime mais do espaço exterior, enfim se transformar num cidadão da sociedade do espetáculo.
Segundo Jair Santos, vivemos em uma sociedade pós-moderna que visa o espetáculo, simulação e sedução. Isto faz com que os sujeitos vivam trocando seus valores pelo modismo de seus ideais.
Para Santos, o mundo pós-moderno o individuo gira em torno de três apoteoses: consumista, hedonista e narcisista.O consumo desenfreado de bens materiais, o hedonismo do prazer moral na satisfação do aqui e agora e também glamuralização da auto-imagem; e o narcisismo militante dos neo-individualistas. E assim a vida convertida em espetáculo continua onde tudo pode funcionar em função da beleza, da magnitude, do fantástico, etc.
Concluímos com isso que pós-modernidade é consumidora de informações que controla e movimenta –se através da sedução. E o modismo e a moda ditam os ritmos sociais que leva o individuo a extravagância e liberdade combinatória com ritmo de fantasia.Tudo gira em torno da promessa personalização que aliena através das mensagens de desejo e fantasia junto com erotismo, humor e moda e faz com que as pessoas reajam negativamente às situações de medo, ou seja, com fuga e esquiva, não se permitindo ter acesso a esse sentimento também necessário ao nosso crescimento.
Bibliografia:
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é o pós-moderno. Rio: Brasiliense, 1986.
DEBORD. Guy. A Sociedade do Espetáculo. Contraponto, 1975.
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