domingo, 5 de julho de 2009

Maria Clara responde:

O cotidiano em si é um natural produtor de medo. Nos causa medo as situações novas, as pessoas, os pensamentos das pessoas, o local onde as coisas acontecem, a reação das pessoas, as críticas, a falta de críticas, a convivência com as pessoas, a solidão, as multidões, o novo, o velho,etc...Querer fazer alguma coisa nova, por si só produz medo, e de certa forma produz sofrimento. Em geral como forma de proteção nos isolamos, ou procuramos formar alianças para que o enfrentamento das situações não nos peguem sozinhos. O escritor português José Luiz Peixoto descreve o medo e o sofrimento de uma forma poética e interessante, em especial em uma de suas obras: Uma Casa na Escuridão - "Compreendi o sofrimento de repente, como se descobrisse um homem suspenso, imóvel, perdido e imóvel dentro de ser só o sofrimento e o mundo. Poucos momentos no céu e tudo têm sentido.O medo e o sofrimento como um gesto desse mundo de sonhos esquecidos e de rostos inúteis. Compreendi que no sofrimento existe um espelho com todo o tempo, um espelho que é concreto e invisível. Tudo é concreto e invisível: dentro de mim e longe de mim. Longe do toque dos meus dedos e dentro do meu peito. Compreendi que o fumo e o vento existem dentro do sofrimento. Quem conhece o fumo e o vento conhece o respeito pelo terror. O medo existe dentro do terror, muito perto do terror, como os homens existem muito perto de perder tudo. O medo, muito perto do terror, é um silêncio de homens e mulheres que existe no momento em que todos, homens e mulheres, percebem que existem muito perto de perder tudo. Dor e sofrimento nos olhos. Conheci o sofrimento de repente e foi muito cedo. O medo como um crepúsculo de nuvens. O medo incrível e impossível. O medo entre muros de medo. O medo é um segredo que só o silêncio de um rosto conhece. O medo entre muros de medo. Mulheres e homens, todos sozinhos, suspensos e imóveis num segredo único: o medo muito perto do terror."Outro artigo interessante é o de Arnaldo Celso do Carmo que faz um comparativo entre a Dor e o Sofrimento (envio o anexo a parte para que seja disponibilizado a todos)

2 comentários:

  1. Patricia S disse:
    Destaco a frase abaixo do poema que citou em sua resposta. É profunda...Gostei demais...
    “O medo é um segredo que só o silêncio de um rosto conhece.”
    (José Luiz Peixoto)
    Lendo a tua postagem lembrei-me de um medo que tenho, mas esqueci de expressar em minha resposta. O medo de perder as pessoas que amamos (familiares, amigos, amores). Nessas situações, o medo da solidão deixa a gente sem chão, mesmo que depois de superada a perda, esse sentimento nos faça mais forte

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  2. Este medo é tanto que não nos atrevemos a pensar na possibilidade de acontecer, pois até o pensamento do medo e da solidão já produz grande sofrimento. O medo da solidão causa muita dor, e, como citou a Raquel em seu depoimento, de certa forma aprendemos que não podemos sentir dor, pois este sofrimento seria insuportável.
    Reportando este pensamento à população que pensamos em atender com este nosso trabalho, fica compreensível a dificuldade do dependente afastar-se das drogas - que além de lhe darem prazer, tiram ou atenuam ou transformam seu sofrimento. O vazio que fica na retirada da substância, mesmo que esta seja feita de forma consciente e voluntária provoca ao mesmo tempo medo e solidão, e consequentemente dor e sofrimento.

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