sexta-feira, 12 de junho de 2009

Patricia S responde:

De acordo com a bibliografia enviada e outras que vocês possam conhecer ao respeito. Que representações sócias hoje você acredita que devam ser transformadas e que minorias ativas deveriam assumir este processo?
A leitura da bibliografia da II Semana foi significativa no sentido de aprofundar o conceito de Representação Social (RS). Zorondo, trás nos seus inscritos reflexões importantes quanto às ações de prevenção nas comunidades. Afirma ainda que o entendimento deste conceito seja instrumento de grande utilidade na estruturação de uma compreensão comunitária quanto ao fenômeno das dependências. O texto de Zorondo trouxe ainda, de forma didática, o conceito de minorias ativas que alguns seguidores/as citaram em comentários posteriores (I Semana) e que para mim não estava muito claro. O texto de Milanese trás reflexões fundamentadas em pesquisas e exemplos práticos que facilitam a compreensão e entendimento do conceito de Representação Social. Os dois textos se complementam e, destaco, em especial, no texto de Milanese os apontamentos quanto à necessidade de mudarmos as representações sociais a partir dos líderes de opinião e as dificuldades enfrentadas neste processo. Com a leitura dos dois textos foi possível compreender melhor o processo que estamos vivenciando aqui em Bayeux – PB, no diagnóstico da comunidade. Percebemos, a partir das representações sociais evidenciadas nas falas e comentários do grupo, que seria fundamental trabalhar momentos formativos de compreensão mais crítica da situação política, social e econômica em que está inserida essa comunidade e nossa sociedade como um todo. As falas e comentários seguem sempre na perspectiva de culpar a população pelos seus problemas: a mata está cheia de lixo porque os próprios moradores jogam seu lixo lá; a violência em nosso bairro acontece porque as pessoas estão afastadas de Deus; as situações que vemos no mundo de hoje (pai violentado as filhas) são sinais do fim dos tempos; o povo que mora na ocupação não precisa de casa, tá lá pra receber a casa do governo e vender; os adolescentes são problemáticos, não respeitam mais os pais nem os mais velhos; oportunidade tem para todo mundo, o problema é ter coragem de trabalhar e enfrentar os problemas da vida. Ou seja, a comunidade é mal educada, preguiçosa, o governo faz a sua parte, mas a “turma” não tá nem aí. Todas essas falas expressam representações sociais dos líderes para com a comunidade. Neste sentido, avaliamos ser fundamental trabalhar e refletir sobre as representações sociais que a própria comunidade tem de si mesma, opinião essa expressa pelo grupo de líderes. Neste processo, as ações de formação são fundamentais, em nossa experiência estamos desenvolvendo rodas de diálogo com o grupo de líderes para assim ir trabalhando essas representações, ou seja, a leitura que fazem do seu contexto e das pessoas que o compõem. Sentimos que é fundamental desenvolver este trabalho com os jovens (líderes), no sentido de serem agentes potenciais de multiplicação dessas reflexões dentro da comunidade junto com seus pares. Milanese enfoca, no final do seu texto, um aspecto importante quando menciona as dificuldades encontradas neste processo de mudança das representações dos líderes de opinião. Estamos vivendo isso em nossa realidade, existem jogos de poder e contextos que dificultam esse processo, alguns líderes têm uma inserção fantástica dentro da comunidade, mas não possuem habilidades/conhecimentos para promover mudanças nas representações sociais, são atores que possuem um respeito muito grande da comunidade, mas que não possuem a habilidade da argumentação. Acredito que o êxito em qualquer proposta de intervenção aconteça de forma mais consistente quando a comunidade possui (ou desenvolveu) senso de unidade, organização política, sentimento de coletividade, junto aos problemas vivenciados. É preciso questionar a visão individualista dos problemas e promover o sentimento do bem comum, objetivo maior de toda luta comunitária. As representações sociais presentes na comunidade estão enraizadas em aspectos políticos, culturais e sociais que fundamentam a percepção individual e coletiva das pessoas que dela fazem parte. É preciso compreender, por exemplo, que a questão da violência dentro da comunidade não está relacionada somente as drogas, mas a uma ordem maior que estabelece discrepâncias sociais gritantes, a um modelo de sociedade que joga para o indivíduo as responsabilidades quanto aos seus sucessos e fracassos. Concordo com os/as colegas que citaram ser fundamental a mudança quanto ao olhar que temos das comunidades, enfatizando suas dificuldades e problemas. Neste sentido, nossos referenciais, quando elaboramos projetos de capitação de recursos, enfocam uma séria de dados, estatísticas, que precisam provar de forma consistente a situação de vulnerabilidade do público atendido. E não somos culpados por isso, de certa forma, os financiadores exigem essa lógica. Nunca vi um roteiro de projeto de financiamento que perguntasse qual o potencial dessa comunidade, o que existe de bom, o que as pessoas sabem fazer? Que visão elas têm da sua comunidade? O público atendido é compreendido fora do seu contexto comunitário, que tem influência gritante sobre seu desenvolvimento e que é, também, transformado por ele. Parece que a lógica é de uma ajuda que vem de fora para resolver um problema interno que foi provado e justificado através de inúmeras estáticas. Como poderíamos mudar essa lógica? Acredito nos jovens e nas mulheres como minorias ativas que podem revolucionar o trabalho em comunidade. Estes grupos sociais devem ser estimulados e trabalhados para fins de efeitos mais consistentes das ações desenvolvidas. Os/as professores/as e agentes de saúde também são atores estratégicos de atuação dentro das comunidades. Gostaria de retificar mais uma vez que, apesar dos textos propostos apontarem nitidamente para a questões das dependências químicas, acredito no potencial do modelo ECO 2 como uma estratégia de sucesso para o tratamento comunitário considerando aspectos mais gerais de situação de vulnerabilidade e, também, pela sua capacidade de ser replicada em diversos contextos.

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